SECULARISMO – Como curar-se?

O secularismo já se alastra no clero e no povo cristão. Ainda há um antídoto eficaz? A meu ver existe um só remédio: batizar-se continuamente, isto é, consagrar-se gradualmente a Deus.

Para que a sociedade pós-cristã possa recuperar a sua fisionomia, não se pode esperar que a história dê marcha à ré. Mas como curar-se desta pandemia? Temos o exemplo da medicina, cujos progressos detectam os agentes geradores dos males; eliminando-se tais agentes, inibe-se o crescimento do mal e até mesmo se o extirpa. O mesmo mecanismo funciona espiritualmente: consagrando-se progressivamente, inibe-se o que alimenta a dita pandemia e seus efeitos negativos, sem prejudicar os valores de uma secularidade sadia.

Os escândalos evidenciam a urgência para que se cure, e não apenas se procure encobrir as incoerências e os desmoronamentos dos valores sagrados.

Mas, afinal, que é o secularismo?

É o desconhecimento ou o desrespeito do projeto de Deus, é negar que tudo o que existe é obra de Deus marcada pelo seu selo; poderíamos dizer, paradoxalmente, secularismo é “profanar o profano”, no sentido de desrespeitar o sacro que também o profano contém na medida em que é criatura de Deus. Disso decorre o desrespeito da natureza e de muitos valores humanos, assim ameaçando a sobrevivência na Terra e da Terra. São os problemas da ecologia, da incolumidade da criação. A própria sociedade leiga, para ser humana e leiga de verdade, precisa libertar-se de sua caricatura, que é o laicismo. E isto só o conseguirá respeitando o sagrado que habita em cada homem, seja qual for a filosofia de sua vida.

Quais os remédios?

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Ofício – Schuster

Quando não consigo… no Ofício divino seguir o sentido das palavras, fecho os olhos e, enquanto os lábios murmuram, abandono o sentido literal para sentir-me nas estepes infindas onde passa a Igreja peregrina e militante a caminho da pátria.

Respiro com a Igreja a sua própria luz de dia e suas trevas na noite. Vislumbro de todo lado as fileiras do mal que a assaltam.

Encontro-me no meio das suas batalhas e das vitórias, em suas orações de angústica e nos seus cantos triunfais na opressão dos presos, nos gemidos dos moribundos.

Encontro-me no meio, não como espectador, mas como protagonista, cuja vigilância e habilidade, cuja força e coragem têm um peso decisivo sobre as sortes da luta, entre o bem e o mal, sobre o destino dos indivíduos e das multidões.

(Beato Cardeal A.I. Schuster)

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O Altar

O ALTAR    A devoção ao Altar marcou a piedade dos primeiros cristãos, que o consideraram como sinal do próprio Cristo, “Altar, Vítima e Sacerdote”.É importante para o Cristão compreender o papel do Altar em sua vida. ORAÇÃO DIANTE DO ALTAR  Diante do Altar, símbolo do vosso sacrifício pascal e mesa da vossa família, ensinai-nos, Senhor Jesus, a sermos nós mesmos um altar, onde a vida se torna um culto agradável a Deus.Enviai sobre nós o Espírito Santo, que Ele faça de nós uma oblação santa, uma hóstia pura, um cálice vivo para a honra do Pai e a salvação de muitos.

 

O AMBÃO     É a mesa da Palavra de Deus, símbolo do sepulcro vazio e sinal da ressurreição.Dele anuncia-se a Palavra de Deus, que é sêmen do Espírito Santo para gerar os filhos da ressurreição. ORAÇÃO DIANTE DO AMBÃO   Senhor Jesus, diante do Ambão, mesa da Palavra de Deus e símbolo do vosso sepulcro vazio, vinde ao nosso encontro, como a Madalena, e fazei de nós testemunhas da vossa Palavra, semente do Espírito que gera os filhos da ressurreição.

 

A CÁTEDRA  É símbolo da presidência de Cristo sobre a assembléia litúrgica. Dela o celebrante exerce a sua função falando em nome do Senhor e agindo com a sua autoridade. O Senhor está presente nele. ORAÇÃO DIANTE DA CÁTEDRA  Senhor Jesus, diante da cátedra, símbolo da vossa presença de chefe e mestre do vosso povo que aqui se reúne, dai-nos entender os sinais do vosso serviço.Derramai o Espírito Santo sobre os vossos servos que falam em vosso nome e agem com o vosso poder, apesar de suas fraquezas e pecados.
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Berakah

            A berakah é a dinâmica da espiritualidade do Antigo e do Novo Testamento. Ela consiste em uma atitude de admiração, agradecimento e louvor da benevolência de Deus que cuida sempre de todas as suas criaturas. A palavra é traduzida no grego cristão como “eucharistia” e “eulogia”. No latim, como “benedictio” e “gratiarum actio”, e no português como “bênção” e “ação de graças”. A sua formulação pode ser de forma passiva: “Sede bendito Senhor nosso Deus…”; ou de forma ativa: “Eu vos bendigo Senhor nosso Deus…”.

               A berakah é testemunhada muitas vezes tanto no Antigo, quanto no Novo Testamento. Escolhemos aqui somente alguns exemplos do Novo Testamento: (1) Jesus reza uma berakah por ter escolhido os pequeninos (Mt 11, 25-27; Lc 10, 21-22); (2) Na narração da Eucaristia: “Ele tomou o pão e, tendo recitado a berakah (ação de graças), o partiu e distribuiu…” (Mc 14, 22-24); (3) Na multiplicação dos pães e dos peixes: “Tomando cinco pães e dois peixes, elevou os olhos aos céus, recitou a berakah (deu graças), partiu os pães e…” (Mc 8, 6-7); (4) Na ressurreição de Lázaro: “Jesus ergueu os olhos para o alto e disse a berakah (dou-te graças), porque me ouvistes…” (Jo 11, 41); (5) Jesus toma as crianças nos braços, recitando uma berakah” (Mc 10, 16); (7) A carta de S. Paulo aos Efésios 5, 18-20: “Buscai a plenitude do espírito. Falai uns aos outros com salmos, hinos e cantos espirituais, cantando e louvando o Senhor em vosso coração, sempre e por tudo, dando graças a Deus, o Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo”; (8) em Colossenses 3, 17: “Tudo que fizerdes de palavra ou ação, tudo fazei dando graças a Deus”.

               O cristão deve rezar a berakah sempre “pantote” e por todas as coisas “hyper panton”. Diante de todas as coisas, sem exceção, o cristão deve pronunciar uma berakah, isto é, louvar a Deus e agradecê-lo, em nome de Jesus Cristo. Não existe algo que não seja uma ocasião da berakah, também as realidades negativas, como a doença e a injustiça, a tristeza e a dor, são motivos para louvar e bendizer a Deus, em vez de enclausurar-se sobre si mesmo e no desespero. A berakah é a expressão de uma inteligência transparente que vê toda a realidade sob uma nova luz e tem o poder de “fazer novas todas as coisas”. Bendizer a Deus pelo mal não é fatalismo, mas reação à sua negatividade, coenvolvendo Deus em qualquer situação vivencial. A berakah transforma o profano em sacro, os objetos em dons, e as coisas em palavras de amor. Graças à berakah, o universo torna-se um grande santuário, em que se deve penetrar, contemplando-o com amor e respeito. Desde o despertar, abrir os olhos, levantar-se, vestir-se, ficar de pé, lavar-se, comer, beber, cheirar uma flor, encontrar um amigo ou um inimigo, sair ou voltar de casa, até deitar-se; sempre e por tudo “demos graças ao Senhor nosso Deus”, porque é “coisa boa e justa” – “Na verdade, é justo e necessário, é nosso dever e salvação, dar-Vos graças sempre e em todo o lugar, Senhor, Pai Santo, Deus eterno e todo-poderoso, por Cristo, Senhor nosso” (Diálogo do Prefácio).

               Não existe coisa ou ação que não possa ser transfigurada pela berakah, até as necessidades fisiológicas: “Sede bendito Senhor nosso Deus, Rei do mundo, que formastes o homem com sabedoria e criastes nele orifícios e canais… Sede bendito Senhor, que cuidais das criaturas de modo maravilhoso”. Essa oração sobre as necessidades fisiológicas abre uma nova e importante missão ao cristão: enquanto a cultura atual tende a banalizar as realidades vitais, como o matrimônio, o nascimento e a morte, o homem de Deus pode opor uma força nova que transforma tudo, tudo consagrando a Deus, fonte e origem, causa e razão de todas as coisas.

Compilação do Propheta Prior

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O Esporte: uma religião leiga?

Na iminência do Nazismo, uma revista de Berlim, tratando do fenômeno esportivo, saiu com este título de capa: “A religião universal do século XX”. O mundial de futebol nos faz refletir sobre o fenômeno esportivo tal como se apresenta na atualidade.

A mídia acentua exacerbadamente o lado emotivo. O esporte é um instrumental, submetido às leis de mercado.  Não se quer aqui censurar as coligações dos interesses econômicos aos fatos esportivos. Gostaríamos apenas de alertar os cristãos diante do desenfreamento passional.

A sobre-excitação coletiva das competições esportivas precisa de um discernimento objetivo. Não discutimos sobre os valores de uma atividade esportiva sadia, que o magistério da Igreja exaltou mais de uma vez. Simplesmente desejamos suscitar um critério orientador a respeito do fanatismo esportivo, fanatismo que chega a desencadear atos de violência criminosa e de vandalismo esquizofrênico.

A fascinação domina massas incontáveis de pessoas que vivem delirando pelo esporte e pelo ídolo-campeão. Tal situação deve preocupar quem consegue se emancipar desta encantação coletiva e refletir até que ponto este contágio mundial não gera uma religião laicista, que diviniza o homem, pelas suas prestações físicas. Este culto pelo físico é uma tentativa de fuga da finitude humana, é um evadir-se dos problemas reais que encontra seu refúgio numa outra finitude, mais efêmera e alienante. O fanatismo esportivo esconde uma perigosa alienação da realidade e substitui a religião por um outro culto, a religião leiga, o laicismo.

O esporte parece um remédio e se torna um narcótico. Quem procura o sentido da vida, ou uma superação dos problemas no esporte, no final, encontra somente o vazio. Por mais que o homem busque no esporte algo que o apaixone e o preencha, ele não dará vazão ao seu buscar: o esporte é passageiro e precário por sua própria natureza.

Propheta Prior

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