A berakah é a dinâmica da espiritualidade do Antigo e do Novo Testamento. Ela consiste em uma atitude de admiração, agradecimento e louvor da benevolência de Deus que cuida sempre de todas as suas criaturas. A palavra é traduzida no grego cristão como “eucharistia” e “eulogia”. No latim, como “benedictio” e “gratiarum actio”, e no português como “bênção” e “ação de graças”. A sua formulação pode ser de forma passiva: “Sede bendito Senhor nosso Deus…”; ou de forma ativa: “Eu vos bendigo Senhor nosso Deus…”.
A berakah é testemunhada muitas vezes tanto no Antigo, quanto no Novo Testamento. Escolhemos aqui somente alguns exemplos do Novo Testamento: (1) Jesus reza uma berakah por ter escolhido os pequeninos (Mt 11, 25-27; Lc 10, 21-22); (2) Na narração da Eucaristia: “Ele tomou o pão e, tendo recitado a berakah (ação de graças), o partiu e distribuiu…” (Mc 14, 22-24); (3) Na multiplicação dos pães e dos peixes: “Tomando cinco pães e dois peixes, elevou os olhos aos céus, recitou a berakah (deu graças), partiu os pães e…” (Mc 8, 6-7); (4) Na ressurreição de Lázaro: “Jesus ergueu os olhos para o alto e disse a berakah (dou-te graças), porque me ouvistes…” (Jo 11, 41); (5) Jesus toma as crianças nos braços, recitando uma berakah” (Mc 10, 16); (7) A carta de S. Paulo aos Efésios 5, 18-20: “Buscai a plenitude do espírito. Falai uns aos outros com salmos, hinos e cantos espirituais, cantando e louvando o Senhor em vosso coração, sempre e por tudo, dando graças a Deus, o Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo”; (8) em Colossenses 3, 17: “Tudo que fizerdes de palavra ou ação, tudo fazei dando graças a Deus”.
O cristão deve rezar a berakah sempre “pantote” e por todas as coisas “hyper panton”. Diante de todas as coisas, sem exceção, o cristão deve pronunciar uma berakah, isto é, louvar a Deus e agradecê-lo, em nome de Jesus Cristo. Não existe algo que não seja uma ocasião da berakah, também as realidades negativas, como a doença e a injustiça, a tristeza e a dor, são motivos para louvar e bendizer a Deus, em vez de enclausurar-se sobre si mesmo e no desespero. A berakah é a expressão de uma inteligência transparente que vê toda a realidade sob uma nova luz e tem o poder de “fazer novas todas as coisas”. Bendizer a Deus pelo mal não é fatalismo, mas reação à sua negatividade, coenvolvendo Deus em qualquer situação vivencial. A berakah transforma o profano em sacro, os objetos em dons, e as coisas em palavras de amor. Graças à berakah, o universo torna-se um grande santuário, em que se deve penetrar, contemplando-o com amor e respeito. Desde o despertar, abrir os olhos, levantar-se, vestir-se, ficar de pé, lavar-se, comer, beber, cheirar uma flor, encontrar um amigo ou um inimigo, sair ou voltar de casa, até deitar-se; sempre e por tudo “demos graças ao Senhor nosso Deus”, porque é “coisa boa e justa” – “Na verdade, é justo e necessário, é nosso dever e salvação, dar-Vos graças sempre e em todo o lugar, Senhor, Pai Santo, Deus eterno e todo-poderoso, por Cristo, Senhor nosso” (Diálogo do Prefácio).
Não existe coisa ou ação que não possa ser transfigurada pela berakah, até as necessidades fisiológicas: “Sede bendito Senhor nosso Deus, Rei do mundo, que formastes o homem com sabedoria e criastes nele orifícios e canais… Sede bendito Senhor, que cuidais das criaturas de modo maravilhoso”. Essa oração sobre as necessidades fisiológicas abre uma nova e importante missão ao cristão: enquanto a cultura atual tende a banalizar as realidades vitais, como o matrimônio, o nascimento e a morte, o homem de Deus pode opor uma força nova que transforma tudo, tudo consagrando a Deus, fonte e origem, causa e razão de todas as coisas.
Compilação do Propheta Prior